Márcia Baranda: 'Caprichoso é boi de gargalhadas'
22/6/2011

Gerson Severo Dantas
Da equipe de A Crítica
Presidente do boi bumbá Caprichoso, a empresária Márcia Baranda tem riso fácil e uma metralhadora verbal pronta para defender os interesses do Azul e Branco, do Festival de Parintins e dos empregos e renda que ele gera para a economia local. Primeira mulher a comandar a “Estrela” do espetáculo, ela diz que é respeitada, não tem problemas para dirigir, mas considera que a sensibilidade da mulher ajuda na hora de administrar uma “empresa” onde 280 pessoas trabalham de forma intensa e com paixão a flor da pele. “As vezes brigo com meu marido, digo que há preconceito sim contra as mulheres, mas não sou de ficar chorando o leite derramado. Desde muito cedo, 11 ou 12 anos, estou aqui , todos me conhecem, já trabalhei em galpão com 300 homens, e eles me respeitavam”, lembra. Na semana passada, no intervalo entre diversas reuniões e o despacho de um cobrador, Márcia recebeu A CRÍTICA para essa entrevista, não sem antes desancar o reporter torcedor do bumbá contrário. “Quando vocë ver A Magia que Encanta (Tema do Caprichoso deste ano), vai mudar de lado”, ameaçou brincando. Confira os principais trechos.
Como é ser a primeira mulher a administrar um bumbá em Parintins?
Não é fácil, principalmente agora que tem Ministério do Trabalho, Previdência, tudo apertando, exigindo funcionário com carteira assinada, usando EPI (Equipamento de Proteção Individual), tudo está mais complicado. Mas tem que ser assim mesmo, a lei exige e estamos cumprindo. Elas já existiam, mas durante um período não eram cumpridas, nosso festival começou pequeno, amador, hoje se profissionalizou, ficou gigante, e isso foi muito rápido, todos estão se adaptando. Veja como a coisa é complicada: Se um funcionário não usar o EPI, na primeira vez ele recebe uma advertência, na segunda outra, e na terceira ele pode ser demitido por justa causa. Mas como eu vou dispensar uma pessoa assim quando ela já conhece todo o projeto do boi, os segredos e as estratégias? Não dá para fazer isso, temos que insistir na conscientização dos funcionários, uma coisa que começou há algum tempo no Caprichoso, não fui eu que comecei.
Mas o fato de ser mulher dificulta o seu trabalho de principal dirigente do bumbá?
Graças a Deus não tenho do que reclamar. Sempre me respeitaram. Agora por ser mulher eu tenho mais sensibilidade para lidar com as coisas, os homens que me perdoem, mas isso é verdade. A mulher é mãe, tenho a sensibilidade e procuro não seguir aquela história de mandar, mandar. Converso. Eu digo para eles que o importante é o compromisso com o Caprichoso, não quero compromisso com a Márcia. A Márcia só tem três anos (na presidência), quero compromisso com o boi e todos têm que ter consciência disso.
Quantas pessoas estão envolvidas na produção do boi hoje?
São 280 com carteira assinada e seguindo o que determina a lei.
Quanto tempo da senhora é dedicado a presidência?
Olha desde os 11 anos estou envolvida no boi, agora de uns dois ou três anos pra cá entreguei tudo na empresa para o meu marido administrar. E isso foi num tempo em que o boi durava três meses, hoje administrar exige um trabalho de 1 ano.
E a família?
Tenho duas filhas que me ajudam muito, querem sempre saber como está minha saúde, as coisas no bumbá.
Qual o orçamento do Caprichoso para este ano?
Olha nem é bom saber, pois ai você fica louca. O Festival são três apresentações diferentes de 2h30, nada se repete de uma noite para outra. Isso é muito grande! Estimado, o nosso orçamento chega a R$ 5,5 milhões.
Muitas dívidas?
Tem coisas que ficam, um patrocínio que não chegou a tempo, outro chegou atrasado. Neste ano perdemos um patrocinador, mas vamos fazer o espetáculo, não gosto de chorar pelo leite derramado. No final a gente resolve porque não podemos desgastar essa festa, ela é indescritível, nosso compromisso é com ela, com o turista, com a comunidade. Veja que no período do boi cai o índice de violência em Parintins. Porque? Todo mundo está empregado, essa festa gera renda, emprego.
E o pessoal entende isso?
Sim, graças a Deus no Caprichoso estamos muito unidos, artistas, iluminadores, alegoristas, o pessoal da vaqueirada, todos estão compromissados. O boi está bem, os torcedores podem esperar um Caprichoso bonito e pronto para ir a vitória, ao bicampeonato .
A senhora fala da importância do festival para a cidade, mas a disputa está cada vez mais acirrada e com golpes abaixo da linha da cintura não?
O festival não é só disputa, tem o lado que gera emprego, renda e movimenta a cidade. Disputa fica para os três dias na arena. Nós temos estratégias, mas sem prejudicar o festival. Nós temos como ganhar o festival na arena, sem prejudicar, insisto nisso, a festa. Eles (o Garantido) têm as deles, mas ai você sabe do que é e de quem estou falando.
Sim, as supostas tramóias extra-arenas. Isso tem solução?
Tem sim, mas precisa ter compromisso de todos. A presidente não faz nada só, todos precisam se conscientizar do que significa o festival.
Em relação ao Garantido, a senhora odeia ou tem pena?
Não tenho pena nem odeio. Os dois bois têm que existir para manter essa festa.
E o que é o Caprichoso?
É um boi de risos e gargalhadas, um amor inexplicável que não quer acabar.
Qual o futuro deste festival? O que ele será daqui a cinco, dez anos?
O festival precisa de reajustes. O boi é muito dinâmico, o que dá certo hoje não dá certo amanhã. Há 20 anos nós estávamos num processo onde todo mundo ia ajudar a enfeitar as ruas, hoje a coisa é bem diferente.
E David Assayag?
O David está feliz, tem uma interação maior com o Caprichoso. A vida é muito bela, temos de estar felizes. Problemas sempre existirão, mas o fundamental é estar bem e o David está bem no Caprichoso, um boi de risos e de gargalhadas.
SAIBA MAIS
A empresária Márcia Baranda venceu na eleição do ano passado o artista plástico Rossy Amoedo contando com o apoio do ex-presidente Carmona Filho. Eles integram o mesmo grupo que há cinco anos comanda politicamente o bumbá Azul e Branco. Neste periodo, as principais realizações foram a pacificação interna das correntes, o pagamento de dívidas com fornecedores e o equilíbrio das finanças e no ano passado a contratação do levantador de toadas David Assayag, que por 15 anos defendeu este item no boi Garantido.